A importância dos vínculos na Educação Infantil
A Educação Infantil faz parte da primeira etapa da Educação Básica e, em virtude da especificidade de seu atendimento, apresenta determinações próprias em necessidade e respeito à faixa-etária do desenvolvimento humano que atende.A base primordial do trabalho nessa fase única da vida infantil é a interação criança-adulto, adulto-criança e criança-criança. O olho no olho, o abraço, a cumplicidade dos sorrisos e as propostas exigem um modo especial na condução das aprendizagens. Estar na praça e brincar, dividir o brinquedo, aprender a argumentar, construir independência nas refeições, ao utilizar ao banheiro, aprender a quantificar, separar, comparar texturas, tamanhos, pesos, mover o corpo, equilibrar-se, desenhar, fazer amigos, entender o mundo através da curiosidade e descobertas fora do ambiente da casa são aquisições essenciais e se dão nesse período.
Este momento atípico que vivemos, em razão da pandemia do Covid-19, modificou de forma radical a vida de todos, impelindo-nos ao afastamento social em virtude do confinamento em casa, e fez com que essa relação da escola com as crianças bem pequenas tivesse de ser reinventada, para a continuidade dos vínculos. Mais do que nunca, a relação possível hoje passa pela conexão entre os adultos. Tudo o que é pensado, planejado e organizado pela escola, para chegar ao seu destino final, que são as crianças, necessita da mediação de um adulto. Não é à toa, que, para os pais de crianças pequenas, essa realidade lhes impõe uma grande demanda, pois, além de seus compromissos profissionais, existem esses pequenos sujeitos, convocando-lhes 24horas por dia. Ademais, as crianças, por mais que lhes expliquemos o que está acontecendo, ainda estão elaborando tantas mudanças ocorridas nas suas vidas em tão pouco tempo. Podem ficar, por isso, mais agitadas, resistentes, teimosas, apáticas, enfim, expressando, com os recursos que têm, o que percebem e entendem dessa situação.
Nosso objetivo, neste momento de excepcionalidade, tem sido apoiar as famílias e as crianças ao enviar brincadeiras, atividades e vídeos das professoras. Esses materiais ampliam o repertório de cada família quanto às possibilidades de brincadeiras e experiências, contribuindo, assim, para esses momentos de interação dentro de casa. Manter o vínculo das crianças com a escola, durante o período de afastamento, é bastante importante, porque não se trata de uma interrupção definitiva dessas relações, mas de uma suspensão. E saber que se tem para onde voltar e alguém a nos esperar quando tudo isso passar é fundamental tanto para os adultos quanto para as crianças. Falar da escola, ver a professora, brincar de algo em casa e contar para a criança que isso foi ideia da sua professora são ações que podem ter efeitos importantes de subjetivação para os pequenos. Para algumas crianças, ainda é difícil falar sobre a escola, dá saudade, dá raiva porque queria estar lá e não pode. Outros ficam alegres e animados ao terem contato com o seu mundo escolar. Cada um é de um jeito e lida diferente, assim como os adultos. É importante serem escutados, acolhidos e respeitados em suas manifestações. Não é o momento de impor atividades para quem não quer, não é para os adultos sentirem-se incapazes se não deram conta do que foi proposto, não precisamos disso agora. E não querer em um dia não significa não querer no outro.
Estamos todo dia aprendendo algo com isso e nos transformando. Ter a possibilidade de compartilhar com a professora ou com a equipe os sentimentos que tudo isso tem despertado também pode ajudar muito. A escola, para os pequenos, faz parte da rede de apoio das famílias e nós todos, mesmo que virtualmente, seguimos aqui, à disposição.
Com carinho,
Rosana Rego Cairuga (Coordenadora da Educação Infantil) e Renata Prosdocimi (Psicóloga Escolar)