Quem cuida de si, cuida do outro. Quem cuida do outro, cuida de si.

Mais do que nunca, este é o momento para pensarmos sobre a importância do cuidado. Esta semana, a escola precisou fechar as suas portas e não receber, por um tempo, aqueles que justificam a sua existência – as crianças, os adolescentes e os professores. Como é a vida das crianças sem a possibilidade de estar na escola? Como fica a vida das famílias, precisando ter seus filhos em casa num período que não é o de férias?

Sem dúvida, essa equação nunca resolvemos antes e, portanto, não sabemos onde buscar referências para resolvê-la. Vamos precisar ser criativos e inventar muitas possibilidades, cada um as suas, as que são possíveis para a sua família, na sua casa, com sua realidade, suas possibilidades e recursos, especialmente os psíquicos.

Desde a Classe Bebê até o último ano do Ensino Médio, as famílias estão recebendo orientações sobre atividades para realizar em casa, durante os estudos domiciliares. Talvez algumas famílias ainda nem tenham conseguido olhar com atenção para essas orientações, afinal, de uma hora para outra, ter de se organizar nessa nova rotina não é nada simples. Outras famílias provavelmente já estão tentando implementar esse novo hábito e, possivelmente, estejam encontrando algumas dificuldades. 

É importante lembrarmos que nenhum de nós teve tempo de se preparar para essa mudança. Quando terminamos a semana passada, nossas energias e investimentos, especialmente com os bem pequenos, ainda era trazê-los e adaptá-los à escola, após um período de férias. Os maiores, embora já se acostumando com o retorno das aulas, no meio de março, ainda estavam às voltas com adaptar-se novamente à rotina de estudos, aos horários e aos compromissos.

Por mais que cada um de nós tenha feito o seu melhor a fim de explicar para as crianças o que está acontecendo com o nosso planeta e mesmo muitas compreendendo realmente o que se passa, não é fácil. A situação atual aciona medos, inseguranças e fragilidades que precisam ser acolhidas pelos adultos, que também sofrem pelo que lhes acontece. Este é um momento importante de acolhimento, escuta e conexão. Mudanças e adaptações necessitam de tempo e investimento, elas não são automáticas.

Estar em casa e não estar de férias não é nada simples. Estar em casa, mas os pais estarem trabalhando, também não. Estar em casa com os filhos e não poder contar com a sua rede de apoio (avós, familiares, funcionários e escola) é bem complexo. Entretanto, não é impossível! Se pudermos ser pacientes, tolerantes, resilientes e criativos, iremos perceber que é possívelque cada um invente o seu jeito de fazer isso. Provavelmente os primeiros dias serão de muitos ajustes, de tarefas não cumpridas, de rotina bagunçada. É fundamental que possamos respeitar o tempo de cada um. Nossas crianças e nossos adolescentes, antes de mais nada, precisam de colo, carinho, paciência e respeito, assim como nós.

É essencial que as crianças possam brincar muito, afinal essa é a melhor forma de expressão e elaboração que podemos oferecer para elas. O brincar organiza e constitui, é o que de mais sadio podem fazer. Desenhar, escrever e ter contato virtual com os pares são ações que também favorecem a saúde mental de nossas crianças e adolescentes.

Neste começo, sugiro que as famílias iniciem tentando organizar uma rotina em casa. Se possível, que as crianças efetivamente participem dessa organização. Sabemos que, quando crianças e adolescentes sentem-se acolhidos em suas necessidades e importantes, tendem a colaborar de forma mais efetiva.  As orientações dadas pelos professores são um belo começo, entendendo que muitos ajustes ainda precisarão ser feitos nos próximos dias. Nessa organização, é fundamental que se considerem os tempos e a rotina da casa, a disponibilidade dos adultos com seus compromissos, as demandas e orientações da escola e o tempo do brincar, do lazer e do divertir-se.

Proponho que possamos ser bem tolerantes e respeitosos com as nossas possibilidades neste começo. Muitos dias podem não sair exatamente como planejamos e tudo bem. Cobranças e sentimentos de que não estamos dando conta não ajudam muito. Investir em diálogo, parceria, trocas, apoio, ajustese, se possível, um pouco de humor e leveza podem ajudar muito! Esse é o momento de compartilhar, se conectar e se ajudar. Quem sabe, serão essas as maiores aprendizagens desta crise!

Por Renata Gonçalves Prosdocimi, Psicóloga Escolar

A especialista está à disposição das famílias inesianas para escuta, compartilhamento de dúvidas, orientações e sugestões de temas que possam ser abordados neste período através doe-mail: renata@santainesrs.com.br.