
O meio ambiente e a literatura
No último sábado (05/06), comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente, e a equipe da Biblioteca Sônia Haydê Randazzo não podia ficar de fora das comemorações. Pra quem ficou curioso, que tal dar um pulinho no Blog da Biblioteca e conferir, em primeira mão, as dicas selecionadas para a “Quarta Literária” desta semana?
"Prezadas leitoras e caros leitores, já ouviram falar sobre biofilia?
Trata-se de um termo criado pelo psicanalista e sociólogo alemão Erich Fromm nos anos 70 e significa “o amor apaixonado pela vida e por tudo o que está vivo”. Anos mais tarde, o biólogo norte-americano Edward Wilson (1984) voltou a usar o conceito em seus estudos, afirmando que os seres humanos têm uma tendência inata de associação com a natureza, ou seja, que há uma forte ligação física e emocional das pessoas com outros seres vivos. Evidências de um comportamento humano biofílico no nosso cotidiano são, por exemplo, a apreciação e curiosidade que as pessoas mantêm pelo mundo natural e um desejo de proximidade cultivado através de contatos sensoriais, como o olhar contemplativo de uma paisagem, a percepção do sabor e aroma dos temperos e ervas perfumando a casa, a escuta da gota d'água pingando em dias de chuva, o toque e afago que vêm da companhia com certos animais. E essa conexão sempre foi tão profunda culturalmente que até a nossa linguagem diária incorporou expressões idiomáticas associando sentimentos e comportamentos humanos ao universo da natureza. Afinal, quem nunca ficou "com a pulga atrás da orelha", fez "boca de siri", viu "a vaca ir pro brejo" ou acabou "no mato sem cachorro"?
No entanto, o processo de urbanização e a degradação da paisagem natural - poluição da água, solo, ar e o desmonte de ecossistemas - têm promovido uma dissociação generalizada e o rompimento de vínculos entre as pessoas e a natureza. É o que Aílton Krenak discute em "Ideias para adiar o fim do mundo", obra que reúne a adaptação de duas paletras e uma entrevista em Portugal de um líder do povo Krenak que atua há 30 anos como ambientalista e na defesa dos direitos indígenas e das comunidades ribeirinhas da região do Vale do Rio Doce e do Amazonas. Aílton fala a partir da realidade de quem convive diariamente com uma natureza que, apesar de ameaçada por interesses econômicos, ainda é próspera e supre as necessidades de subsistência e manutenção da sua comunidade, por isso o profundo respeito pelo organismo vivo que é a Terra. O educador socioambiental enfatiza o direito à vida de todos os seres - incluindo florestas, rios, montanhas... - sem levá-los à exaustão para abastecer um tipo de existência humana que já está condicionada a seguir o padrão extração - produção de mercadoria - consumo - descarte. "Qual é o mundo que vocês estão agora empacotando para deixar às gerações futuras? [...] já perguntou para as gerações futuras se o mundo que você está deixando é o que elas querem? A maioria de nós não vai estar aqui quando a encomenda chegar", questiona Aílton. Para ele, estamos ficando alienados desse órgão do qual somos parte, "[...] e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade", quando, na verdade, temos uma casa comum e uma diverdidade de vidas que precisam do cuidado de todos nós. E por falar em casa e gerações futuras, que tal incluir as crianças na conversa sobre como é fascinante e diverso o nosso planeta? Em "Minha casa azul" acontece uma "enorme viagem através dos mistérios do Universo, passando por nosso pequeno planeta azul, pelos tesouros dos continentes, dos países, das cidades e da casa azul de uma criança da Terra. Uma criança que enxerga o mundo sonhando." Durante esse percurso entre realidade e imaginação, ela é transportada do macro ao microcosmo da existência, reconhecendo sua cidade, sua rua, sua família e seus amigos até chegar à porta vermelha, onde guarda os sentimentos do seu coração. E assim, a criança vai compreender que existem inúmeras formas de vida e que ela também faz parte desse Universo observado e vivenciado. O texto é acompanhado de ilustrações e colagens belíssimas, levando o leitor a uma aventura planetária sobre o nosso querido lar, a Terra."
Leituras sugeridas para jovens e adultos:
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. ROGERS, Kara. Biophilia hypothesis. Encyclopedia Britannica, 25 jun. 2015. Disponível aqui.
SANTOS, Lázaro Araújo. Biofilia: a importância do contato com a biodiversidade para a saúde e bem-estar dos seres humanos. EcoDebate, n.3.652, 28 abr. 2021. Disponível aqui.
Para todas as pessoas, mas especialmente as crianças:
SÉRRES, Alain; CANNARD, Edmée. Minha casa azul. Trad. Marcos Bagno. São Paulo: Edições SM, 2009. TATIT, Paulo; PERES, Sandra. Ora bolas. In: Canções de brincar. São Paulo: Palavra Cantada, 1996. 1 CD. Faixa 14.
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